Relato da visita ao Inhotim

 Em abril, realizamos uma excursão para ao Inhotim, maior centro de arte contemporânea a céu aberto do mundo, localizado em Brumadinho. A proposta era conhecermos o local e analisarmos toda a composição da região e das galerias (tanto a parte interna, quanto a externa e o diálogo entre todos os componentes presentes).

Na parte da manhã, a turma dividida em grupos deveria visitar algumas galerias já determinadas e analisar a estrutura externa e interna, o diálogo com as obras, iluminação, percepções sensoriais, o sentido atribuído à composição sem informações prévias sobre a exposição em si e depois com essas informações, além da realização de dois desenhos do prédio, um interno e outro externo. Visitamos a galeria da Claudia Andujar, uma fotógrafa de família judia que veio para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial após parte dos parentes terem sido levados para os campos de concentração. Por conta desse histórico trágico, Claudia se sensibilizou pela questão indígena no Brasil e se tornou ativista da causa, começou seus trabalhos como fotógrafa documentando tribos na região de São Paulo, posteriormente ela se dedica a documentar e denunciar as situações das tribos indígenas da região Amazônica, em especial em relação aos Yanomamis.



A galeria se situa numa região mais afastada no Inhotim e com a natureza ao seu redor, sendo necessária uma pequena trilha para chegar na entrada do edifício. Esse foi construído de tijolos aparentes, o que remete a essa conexão com a terra e com a natureza ao redor e, é interessante que a entrada não é direta, há de se passar por um corredor com cobertura de madeira ripada e depois uma área mais fechada e escura para entrar na galeria.

A parte interna é composta por amplos salões com piso amadeirado e paredes brancas e neutras, no qual as fotografias estão penduradas, há vários desses salões, todos bem divididos e delimitados e, cada um apresenta uma parte específica das ideias trabalhadas na exposição [A terra (e a água), Yanomami- O ser humano, Retratos – A construção da intimidade, O conflito]. Ademais, a disposição desses salões te guia pela exposição até a última sala, na qual é projetada uma imagem de uma oca em chamas. Assim, essa galeria possui um grande peso por essa questão social abordada e os recentes acontecimentos trágicos envolvendo a população dos Yanomamis e, esse peso é bem trabalhado na arquitetura do prédio, que externamente remete ao contato com a natureza, mas também remete às construções medievais europeias, as quais trazem consigo uma sensação de tensão. Internamente, a estrutura se dialoga pouco com as obras e a luz natural presente incomoda aos visitantes e impede a plena percepção das fotografias.











Posterior a visita dessa galeria, a turma se reuniu para conversar sobre suas experiências e os aspectos analisados, o que foi muito positivo, pois trouxe uma vontade maior de conhecer outras galerias bem diferentes e também porque o Inhotim é muito grande e não há como visitar tudo em apenas um dia, então abriu possibilidades de se conhecer o que o local oferece sem visitar tudo.

Na parte da tarde visitamos outras galerias e exposições, sendo as minhas preferidas a Cosmococa, a qual é interativa e trabalha muito com a questão de percepção e dos sentidos, e a da Adriana Varejão.


Sobre a galeria da Adriana Varejão é interessante o quanto o prédio dialoga com as obras e cria uma imersão muito grande. A fachada com a presença de um espelho d’água azul vibrante funciona como um espaço de transição entre a área verde e o edifício e, o primeiro piso, com uma parede de vidro oferece uma permeabilidade visual, no qual propicia que o expectador já possua uma ideia das obras da artista antes de adentrar o prédio, ao mesmo tempo que quem está dentro do edifício consegue visualizar o exterior e, esse contraste cria uma sensação interessante entre a harmonia e beleza do externo e uma das obras de Varejão que se destaca (Linda do Rosário), a qual traz um peso e tensão devido a sua história e seu tema visceral. Inclusive, a artista possui várias obras com temáticas sociais e de ordem mais pesada, além de possuir essa marca da temática visceral e dos azulejos. Para ir ao segundo piso, há uma escada e é bem agradável essa transição de espaços; o segundo piso possui todas as paredes cobertas por uma obra que imita azulejos em estilo barroco, porém estão todos trincados, o que remete às cicatrizes do passado colonial (tema frequente de Adriana). Há ainda um terraço, sendo acessado depois de subir uma rampa cinza e estreita e com paredes altas dos dois lados, circuito que gera incômodo e uma sensação de que a liberdade individual está sendo privada, o que contrasta quando se chega ao terraço, amplo e aberto, de novo em contato com a natureza e mais uma obra: um banco revestido por azulejos e em cada azulejo havia o desenho de um pássaro diferente, um suspiro em relação às obras e atmosfera da parte interna do prédio.

Primeiro piso:

                         Linda do Rosário


                                                                        Segundo piso:

                                    Celacanto Provoca Maremoto                                                                    (Detalhe: aspecto trincado)









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